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Faltou o café e o doce
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Faltou o café e o doce

Mulher, o que tu não estás lendo?
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Não é novidade nenhuma que programação de leituras, otimização/produtividade do lazer, FOMO são assuntos que vivem perambulando pela minha cabeça. Já escrevi sobre isso.

Tentei me alforriar das programações de leituras. Fiz o oposto; reiterei meu compromisso com as leituras que eu combinei com amigas e participação em clubes de leitura. E fui seguindo.

Vou seguindo. Digo que não sou/estou obrigada a nada, mas acabo me obrigando, sim. Desobedeço a sábia premissa que eu sou livre, como uma amiga me relembra direto.

Há anos (muitos), eu tentava pela, sei lá, quinta vez, continuar a leitura de Crime e Castigo e ouvi de um amigo meu que eu deveria largar a leitura. Assim, ele não falou pra eu largar, ele usou termos mais fortes, quase impublicáveis, que eu já nem lembro direito. Mas a ideia era que eu não tinha a menor obrigação de terminar o livro. Guardei o conselho. Aliás, eu segui o conselho e guardei Crime e Castigo por alguns anos, até vir a vontade de ler e eu li e gostei.

Fiz a mesma coisa com outros livros. Fiz este ano com a releitura de Ulysses.

Estava organizando a minha estante e reparei que tem vários livros iniciados este ano que estão parados. Tem os Contos Completos, de Virginia Woolf, e tem o Ensaios Seletos, dela também. Tem O cérebro no mundo digital, tem o Império da dor... São livros que estão ali no cantinho. E eu vou terminá-los. Quando? Não me perguntem. E tem uns que não vou terminar. Por quê? Sei lá, talvez porque eu seja livre.

Com tanta coisa pra ler no mundo, eu não preciso me sentir obrigada a finalizar uma obra. Se quero conhecer a escrita de autor, tudo bem pegar uma coletânea de contos e ler alguns. E também não tem problema nenhum ler só um trecho de um romance, perceber que não é para agora e guardar. Assim como é possível reler só uma parte de um livro. O exercício da leitura é muito maior que finalizar os livros, marcar no Goodreads, anotar na planilha, ou conversar a respeito deles.

Faz uns meses que Barbara Bom Angelo publicou um vídeo ótimo no qual ela comenta a fluidez dela na escolha e nas leituras que ela faz. Como o meu amigo comentou no story que compartilhei um trechinho da fala de Barbara sobre isso, ela fala com palavras mais elegantes o que ele já havia me aconselhado a fazer anos atrás.

Eu compartilhei o tal trechinho do vídeo logo após publicar um story com vídeo que fiz anotando o ponto em que parei a leitura de A Besta Humana, de Emile Zola, livro de julho do clube de leitura das minhas amigas aqui em Brasília. Foi uma justificativa. Foi um pedido de desculpas. Foi, na verdade, uma espécie de alforria. E eu nem estava desgostando do livro. Só fiquei empacada muito tempo e fui perdendo o interesse. Ou melhor, me interessei por começar outras coisas ou retomar outras leituras paradas. Mas aquele livro aqui do meu lado, me olhando, parecia um encosto impedindo eu seguir em paz por esses novos caminhos.

Porque eu percebi que deixar de lado leituras que eu defini pra mim, em minhas programações, está bom e eu aceito, mas quando me comprometo a ler com outras pessoas, em especial com o clube, me sinto mal. Parece que estou traindo minhas amigas. Mas assim, não estou. Só não quero agarrar raiva do livro, então, melhor devolvê-lo pra estante. Não preciso ser tão caxias com meu tempo de lazer. Com as coisas que gosto de fazer. Ou, vou começar a fazê-las de forma obrigada e tente me obrigar a fazer o que eu não quero e você vai logo ver o que acontece.

E aí que vem outra coisa... o FOMO. Eu fico combinando de ler 987 livros com amigas porque eu sei que discutir aqueles livros com essas pessoas vai ser legal. Desde o colégio que eu gostava de combinar leituras. Rata da biblioteca, eu ficava futricando o que o povo estava lendo, virava pra alguma amiga e já pensava em ler depois e comentar o livro. Porque, assim, eu já falei muitas vezes isso, ler não é e nem deve ser um hábito solitário. Sou do time que acredita que melhor que ler o livro, é conversar sobre o livro. E aí, como eu amo uma conversa, já fico pensando no que vou perder e resolvo me obrigar a ler os livros que combinei de ler. Mas, eu preciso relembrar todos os dias que eu sou livre (né, Mônica?) e que eu posso, sim, largar a po##@ do livro que não estou interessada (né, Marcelo?) ou que, simplesmente, estou too busy, I have no time. E a falta de tempo pode ser, inclusive e normalmente é, por estar lendo outros livros que estou gostando (ou não, mas estou interessada).

Terminar um livro não é obrigatório. Não estou buscando uma estrelinha na minha carteirinha de leitora indicando que este ano eu li um clássico francês, um lançamento africano queer ou um modernista irlandês. Eu quero ler o que eu quiser e quando eu quiser. Ou, se eu quiser abrir um livro de ensaios aleatoriamente e cair num texto que fala da obviedade ululante da água para os peixes e quiser reler, vou reler e, sim, reler livros é um hobbie ótimo ainda que milhares de outros livros fiquem esperando sua hora de serem lidos ou retomados na estante - ou nas livrarias para serem comprados.


Escrevi esse desabafo no calor do momento. Era pra ser só uma introdução pra conversa que gravei com minha amiga Beatriz Masson, que está lá em cima pra vocês ouvirem. A gente combinou de ler um livro - presente que ela me deu, obrigada, Bia - mas ela não leu porque resolveu ler outro livro (e está certíssima). Então, conversamos sobre essa canseira que é a produtividade no nosso tempo livre: marcar leituras, terminar leituras, dar check no desafio do Skoob, fazer exercícios físicos, assistir a todas as séries, subir montanhas, caminhar sobre planalto, ou seja, sobre o maldito neoliberalismo

E tem mais, no início da conversa, a gente cita um episódio do podcast O corre delas, que está disponível aqui.

As dicas de Bia: os livros que Dona Joana (a K. Rowling) escreve sob o pseudônimo Robert Galbraith: O chamado do cuco, Coração de nanquin, Vocação para o mal, O Bicho da Seda. 

As três temporadas da série baseada nesses livros - C.B. Strike - , estão no MAX. 

Eu indiquei a série Slow Horses, que está na Apple TV+.  

O livro sobre o qual falamos, falamos, falamos e ainda não lemos é A mais recôndita memória dos homens, de Mohamed Mbougar Sarr. 

FICA, TEM LINKS E MINI DICAS:

  • Me dei o luxo de não terminar nenhum filme em julho. Nem vi nenhuma série. Estive focada no Tour de France e, por mais que minha torcida tenha sido pra Jonas Vingegaard e o team da Visma Lease a Bike, este ano, como o próprio Grischa Niermann reconheceu, Pagacar estava melhor mesmo e a gente teve que aceitar.

  • Tenho pensamentos sobre o documentário sobre Simone Biles (Netflix). Gostei, mas mais do que eles comentam sobre como as atletas eram tratadas antes e a atenção à saúde mental delas atualmente, do que sobre a trajetória de Biles em si. Afinal, somos todos Rebeca Andrade.

  • Sim, estou em modo olímpico e quem não está, está errado, afinal, é só de quatro em quatro anos. Lembro, como se fosse ontem (porque 2016 foi ontem mesmo), da abertura dos jogos do Rio. Jamais será tão emocionante!

  • Tinha me programado pra comemorar os 30 anos de Forrest Gump revendo, mais uma vez, esse filme. Mas, volte pra observação nº 1. Também passou batida a efeméride de Harry e Sally.

  • Uma coisa bem esportiva, essa edição de corridas no cinema. E a música?

  • Esse negócio todo de fazer um milhão de coisas, estudos, leituras e jogos olímpicos me lembrou do livro Esforços Olímpicos, de Anelise Chen, que li há uns anos e gostei bastante. Ela compara os esforços de atletas - histórias reais com a vida na contemporaneidade. E tem outros assuntos, luto, migração.


Os deliciosos pudim de copo e bolo de cenoura com cobertura de manjericação do Clandestino Café. E um espressinho.

Bom, se você não está cansada e acha que não dou conta das leituras que eu me programo pra fazer porque sou relapsa, fique a vontade pra deixar seu comentário com dicas pra eu me organizar melhor e otimizar o meu tempo e ser mais focada no que faço. Provalmente eu não seguirei, mas vai que outra pessoa lê o comentário, gosta e resolve aplicar na vidinha dela?

Agora, se você está cansada e se sente sufocada por esse FOMO urgente da produtividade do lazer, me chame pra tomar um café e comer um doce.

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