Outubro não me deu paz. Consequentemente, o que me resta é escrever as aleatoriedades do mês.
Teve livro.
No apagar das luzes do dia 31 de outubro terminei As Correções (The Corrections, Jonathan Franzen, 2001). E gostei. E gostei bastante, mas não a ponto de amar. Já tinha curiosidade de ler esse autor e, especificamente, essa obra por motivos que já expus aqui anteriormente e não vou me repetir – volte três casas posts.
Pois bem, lá vou eu tentar fazer uma mini resenha. O casal, Alfred e Edid, teve três filhos – Gary, Chip e Denise, que, no final do século XX já são adultos aparentemente bem sucedidos em suas vidas nas cidades da Costa Leste americana, enquanto os pais ainda vivem em uma cidadezinha do meio oeste estadunidense. É um romance americano. Beeeem americano. E que à medida que eu ia avançando na leitura, me questionava o motivo de estar lendo um romance tão americano assim.
Sem tergiversar. Volta.
Família típica do meio-oeste dos Estados Unidos. A mãe quer reunir os filhos para passar o Natal juntos, mas isso vira um problema. Seja porque a esposa de Gary não suporta os pais dele, seja porque Chip está na Lituânia escrevendo um blog sobre um ex-político aspirante a trambiqueiro, seja porque Denise está passando por uma crise existencial. Claro que isso causa uma crise na família que, à medida que lemos, percebemos que é mais antiga do que eles mesmos conseguem perceber. Ou percebem muito bem.
A escrita de Franzen é extremamente descritiva. Chega a cansar em alguns momentos em que passa da descrição para a explicação. Mas, tem um sentido. Ele é efusivo em detalhar cada ação dos personagens porque ele está nos entregando quem eles são fora do que ele descreve, para que a gente entenda quem eles são pelo que eles fazem. Se numa cena ele precisa explicar o funcionamento da cabeça de Gary e os fatores que ele precisa controlar para não brigar com a esposa, não é apenas pra gente entender que ele está em depressão, mas como essa depressão está instalada em sua alma e, claro, de onde ela veio.
Só sei que, por meio dessa família, a gente vai entendendo os EUA. E é capaz de a gente entender um pouco de algumas famílias aqui no Brasil do século XXI.
- fui meio franzeniana: descrevi demais.
Teve outro livro: O menino no espelho, Fernando Sabino, 1982.
Engraçado que das lembranças dos livros lidos na época escolar, Sabino e seu O homem Nu são das minhas memórias mais vivas. Mas, nunca mais li nada dele. Daí, fuçando o Xuíter, me deparei com a efeméride do centenário de nascimento dele e saquei o livro que ganhei de aniversário (beijo, Mirella e Pablo) e li. Amei. Mas amei a ponto de chorar com o final.
O livro contém episódios da infância de Sabino nos arredores da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Sabino conta seus causos do ponto de vista da criança, por volta dos 8/10 anos, mas amplia seu universo transformando-o em histórias fantásticas. É o pequeno escoteiro que se vira sozinho e enfrenta bichos perdidos na mata e depois é condecorado. É o menino ruim de bola que salva o jogo do seu time do coração. É a paixonite correspondida pela prima mais velha. Tudo é lindissimamente escrito. E, no final, fica aquele único conselho necessário a ser seguido na vida. Leia para saber.
… e sigo lendo Wanderlust, de Rebecca Solnit. Mas tá perto, pertinho de terminar…
Andei ouvindo em looping Tecnicolor, d’Os Mutantes, gravado pelo trio original em 1970 e lançado no ano 2000.
Dizem que se Os Beatles tivessem ‘nascido’ no Brasil eles seriam Tia Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Independentemente disso, eu AMO Os Mutantes. E um dia, voltava eu do trabalho, pensando na palhaçada que é ser uma adevogada de sucesso servidora pública, quando o refrão de uma das músicas deles atravessou meus pensamentos. Procurei em Os Mutantes (o de 1968), mas a faixa não é desse disco. Procurei em A Divina Comédia ou Ando meio desligado (de 1970), mas também não estava nesse. Bom, joguei na busca aleatória do Spotify e achei. Mas, logo em seguida, entrou a faixa título de Tecnicolor e, então, abri o álbum e estou ouvindo desde então. Isso deve ter acontecido lá pelo dia 3/10. Ou seja, quase um mês ouvindo o mesmo disco.
Teve filmes.
Por falar em Tecnicolor, mas Technicolor, revi O Mágico de Oz, o original de Victor Fleming, de 1939. Esse é um dos filmes que mais assisti na vida e todas as vezes que revejo vem a sensação de que não me lembro do final. Acho ótimo me esquecer do final – que apesar de ser significativamente diferente do livro, faz bastante sentido pro enredo do filme e pro contexto do seu lançamento.
E, pela primeira vez, eu assisti à versão The Dark side of the rainbow, aquela teoria da conspiração de que o Pink Floyd compôs The Dark side of the moon (1973) inspirado em O mágico de Oz e que se a gente der play no disco no segundo mugido do leão da MGM, tudo vai estar milimetricamente calculado e sincronizado. Achei interessante. O legal é que a melhor música do disco começa quando aparece o melhor personagem. Escutem/vejam.
…Sobre escutar, estou pra escrever sobre ouvir livros. Mas, pra isso, tenho que terminar de ouvir o audiolivro de Pessoas Normais, de Sally Rooney…
Fui ao cinema ver Os assassinos da Lua das Flores, (Martin Scorcese, 2023). Não vou comentar porque estou achando uma chatice repetitiva o povo falando sobre esse filme sensacional apenas baseado na comparação com o livro que o inspirou.
MAS, em resumo, não entrou pros meus favoritos de Scorcese, mas gostei muito do filme. Procurem pelas críticas de PH Santos e Dalenogare sobre o filme/livro e, se quiserem saber da história com H maiúsculo que foi contada, sem precisar ler um livro inteiro, o Nerdologia fez um vídeo bem explicativo que prepara os cinéfilos não puristas de adaptações de livros pra entender que foi e o que sofreu o povo indígena Osage.
Outro inédito: Retratos Fantasmas (Kleber Mendonça Filho, 2023). Ah, como eu amei esse documentário do diretor de O Som ao redor, Bacurau…
Ele conta sua relação com o cinema desde criança, no seu apartamento em Setúbal (bairro de Recife) e, depois, abre a lente mostrar a história dos cinemas de rua da cidade. E, claro, isso vai acabar caindo na degradação desses cinemas e, mais ainda, na degradação do centro de Recife. Não sei se é a fração pernambucana do meu DNA ou os resquícios de pretensa arquiteta conservacionista que há em mim, mas me emocionei demais com as cenas do centro de Recife. Claro, pode ser só saudade de voinha e de painho mesmo. Ok. Sigamos.
Ah, pra terminar, revi Apocalypse Now, (Francis Ford Coppola, 1979). Tinha visto esse filme assim que li No coração das trevas (Heart of Darkness, Joseph Conrad, 1899) e já daquela assistida, achei genial Coppola transferir a jornada em busca do Coronal Kurtz do Congo pro Camboja, no meio da Guerra do Vietnã. Dessa vez, desvinculada da leitura, apreciei ainda mais o filme. E, pelo filme ter sido feito após a derrota dos EUA na guerra, o tom de sátira da primeira parte é maravilhoso. Confesso, inclusive, que prefiro os dois primeiros terços do filme, antes dele entrar no coração do Camboja e um certo ator, finalmente, aparecer. O filme muda. Tudo cresce. Mas, devo ser das poucas pessoas que quando pensa no filme, se lembra muito mais de Willard e de Kilgore que de Kurtz.
…Deixa eu indicar a Newsletter e o canal de Barbara Bom Angelo…(obrigada, Cíntia)
E voltei pro Instagram.
E quando eu digo voltei, não é só como consumidora de fofocas ou apreciadora de vitrines de lojas virtuais. Voltei com gosto e muitas fotos de Inácio, porque se é pra entrar naquele buraco, eu me jogo com os dois pés em queda livre. Claro que vieram me perguntar se eu estava querendo ser influencer com tanto post. Galera, pensa aí, eu faço amigos e influencio pessoas há mais de 40 anos, preciso de rede social não.
Me surpreendi com algumas dinâmicas de divulgação de conteúdo e já escrevi sobre isso lá mesmo. Mas o que mais me surpreendeu é a quantidade de posts de trabalho de meus amigos. E nem estou falando dos amigos que precisam das redes sociais pra divulgarem sua produção de conteúdo/produtos/serviços. Estou falando de servidores públicos postando fotos em palestras e eventos. Pipocaram questionamentos e, claro, críticas. Tudo relacionado ao conteúdo narcisista que aquela rede impulsiona. Mas a sensação que eu tive é de que diminuíram as seflies em fexthenhas e aumentaram as fotos muito bem produzidas em poses de profissionais bem sucedidos e um grande movimento de se mostrar sério e/ou muito engajado no que faz. E meu deus do céu, o que está acontecendo???? Minha analista interior me mandou calar a boca, guardar meus pensamentos pra mim mesma e seguir postando fotos do gato.
Me sigam. @marisinha_c
ainda não assisti o novo do Scorsese, mas fico triste vendo gente julgando um filme que me parece ter muito potencial, pelo livro! e um colega me deu a dica de assistir Sangue Negro em seguida, dá para relacionar os temas, e Sangue Negro é um baita filme ♥️
Aeeeeee já tava com saudade dos posts!
Li os outros todos de uma vez só rsrsrs ❤️